Roteiro por cidades com vestígios da presença indígena pré-colonial

Santa Catarina é muito mais do que um estado conhecido pelas belas praias, serras e tradições europeias. Existe uma história anterior à colonização que resiste em vestígios milenares espalhados por diferentes regiões.

Seguir um roteiro por cidades catarinenses com vestígios da presença indígena pré-colonial é uma jornada que revela a riqueza cultural dos povos originários, suas marcas na paisagem e seu legado ancestral.

Esse tipo de turismo vai além da contemplação. É uma experiência de conexão profunda com as raízes do território, trazendo conhecimento sobre povos que habitaram a região por milhares de anos.

Quem são os povos originários de Santa Catarina

Diversidade antes da chegada dos colonizadores

Muito antes da chegada dos europeus, Santa Catarina já era ocupada por diversos povos indígenas, como Guarani, Kaingang, Xokleng (Laklãnõ) e Chocleng. Cada etnia desenvolveu modos próprios de viver, manejar o meio ambiente e se relacionar espiritualmente com a natureza.

Povos do litoral e povos da serra

Enquanto os Guarani, tradicionalmente ligados ao litoral e às florestas, deixaram trilhas, aldeias e saberes que ainda hoje sobrevivem, os Kaingang e os Xokleng habitavam o planalto e a serra, desenvolvendo uma relação diferente com o território, baseada no extrativismo, caça e manejo sustentável das florestas.

Herança material e imaterial

Os vestígios encontrados em Santa Catarina incluem sambaquis, oficinas líticas, inscrições rupestres, artefatos cerâmicos e objetos de uso ritualístico. Junto disso, há também a herança viva: línguas, cantos, saberes medicinais e cosmologias mantidas por descendentes desses povos.

Florianópolis e seus registros milenares

A ilha dos sambaquis

Florianópolis é um dos lugares mais ricos em vestígios da ocupação pré-colonial no sul do Brasil. Povos sambaquianos habitaram a região há mais de cinco mil anos, deixando verdadeiros monumentos arqueológicos.

Locais imperdíveis na capital

  • Sambaqui do Santinho: No costão da Praia do Santinho, é possível observar inscrições rupestres e restos de um antigo sambaqui, que testemunha a presença de povos antigos.
  • Museu Universitário Oswaldo Rodrigues Cabral (UFSC): Guarda um acervo impressionante de peças arqueológicas, incluindo esqueletos, ferramentas e adornos oriundos de sambaquis da ilha.
  • Museu Arqueológico ao Ar Livre do Campeche: Oferece trilhas guiadas que percorrem sítios arqueológicos e áreas de inscrições rupestres, proporcionando uma experiência imersiva.

A presença Guarani no presente

Além dos vestígios arqueológicos, Florianópolis abriga comunidades Guarani que mantêm viva sua língua, tradições e rituais, especialmente na região sul da ilha.

Laguna e o legado dos povos sambaquianos

História gravada nas conchas

Laguna é referência no roteiro por cidades catarinenses com vestígios da presença indígena pré-colonial. A cidade guarda vestígios dos povos sambaquianos que datam de até cinco mil anos.

Sítios e museus para visitar

  • Sambaqui da Ponta da Barra: Um dos maiores da região, com estratigrafias que revelam camadas de ocupação humana ao longo de milênios.
  • Museu Histórico Anita Garibaldi: Contém uma seção dedicada à arqueologia, com peças encontradas nos sambaquis locais.
  • Praia do Gi e Costão da Praia do Mar Grosso: Locais onde é possível observar inscrições rupestres preservadas na rocha.

Povos Guarani no entorno

Próximo a Laguna, comunidades Guarani Mbya seguem ocupando territórios tradicionais, preservando saberes ancestrais, músicas, mitologias e sistemas agrícolas baseados na permacultura.

Joinville e a maior coleção de sambaquis das Américas

Um tesouro arqueológico no norte catarinense

Joinville é internacionalmente reconhecida por seu riquíssimo acervo arqueológico, que inclui o maior museu de sambaquis da América Latina.

Experiências culturais na cidade

  • Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville: Abriga mais de 50 mil peças, entre ossadas, instrumentos de pedra, adornos, restos alimentares e cerâmicas que remontam a mais de 5 mil anos.
  • Sítio Arqueológico de Pirabeiraba: Acessível por agendamento, permite observar áreas de antigas oficinas líticas e estruturas dos sambaquis locais.
  • Trilhas arqueológicas: Alguns roteiros guiados oferecem caminhadas por áreas onde é possível observar vestígios materiais preservados.

Educação e preservação

Joinville também investe em programas educativos que integram escolas e visitantes ao conhecimento da história pré-colonial, fortalecendo a preservação desse patrimônio.

São Francisco do Sul e suas inscrições rupestres

Marcas na pedra e na história

São Francisco do Sul, uma das cidades mais antigas do Brasil, possui sítios arqueológicos que evidenciam ocupações humanas muito anteriores ao período colonial.

Locais de visitação

  • Costão da Praia Grande: Inscrições rupestres visíveis que representam espirais, figuras antropomórficas e símbolos associados a rituais de fertilidade e pesca.
  • Sambaqui da Enseada: Um dos maiores sambaquis do estado, com peças expostas no Museu Histórico Municipal.
  • Museu Histórico de São Francisco do Sul: Oferece exposições sobre a ocupação indígena e a formação do território antes da chegada dos colonizadores.

Itajaí e as oficinas líticas esquecidas

Patrimônio pouco conhecido

Itajaí possui importantes sítios arqueológicos que, embora menos divulgados, fazem parte do roteiro por cidades catarinenses com vestígios da presença indígena pré-colonial.

Sítios de interesse

  • Museu Etnoarqueológico de Itajaí: Com acervo que inclui pontas de flechas, raspadores, ossadas e cerâmicas dos antigos habitantes da região.
  • Sítio Arqueológico de Cabeçudas: Abriga vestígios de oficinas líticas usadas na produção de instrumentos de pedra, além de fragmentos cerâmicos e estruturas de habitação.

Conexão com os povos Guarani

Na região do Vale do Itajaí ainda existem aldeias Guarani Mbya, que seguem transmitindo conhecimentos sobre plantas medicinais, rituais e espiritualidade ligada à floresta.

Garopaba, Imbituba e a força dos costões sagrados

Arte rupestre à beira-mar

Garopaba e Imbituba são famosas pelas belezas naturais, mas também escondem verdadeiros tesouros arqueológicos em seus costões e trilhas litorâneas.

Locais sagrados e sítios de visitação

  • Costão da Praia da Barra (Garopaba): Inscrições rupestres emolduradas por paisagens paradisíacas.
  • Ilha das Araras (Imbituba): Um dos sítios arqueológicos mais importantes da região, com gravuras na rocha ligadas a rituais de fertilidade, pesca e cosmologia.
  • Praia do Ouvidor e Praia Vermelha: Locais que preservam vestígios arqueológicos, incluindo fragmentos cerâmicos e inscrições rupestres.

Herança cultural viva

Em toda essa região, há a presença de comunidades indígenas Guarani, cujas práticas culturais, cantos e cosmologias seguem sendo transmitidas entre gerações.

Serra Catarinense e os povos do planalto

As terras dos Kaingang e Xokleng

Diferente dos povos do litoral, os habitantes originários da Serra Catarinense viviam em aldeias estruturadas no meio das florestas, com práticas sustentáveis de caça, coleta e manejo do fogo.

Locais para aprendizado e contato

  • Museu do Índio Laklãnõ-Xokleng (Ibirama): Criado e gerido pelos próprios Xokleng, é um espaço que oferece uma imersão na história, espiritualidade e resistência desse povo.
  • Reserva Indígena Laklãnõ (Ibirama e José Boiteux): As visitas guiadas permitem conhecer o modo de vida, a história de resistência e a luta pela preservação cultural.
  • Sítios arqueológicos da Serra do Espigão: Vestígios de antigas aldeias, áreas de oficinas líticas e campos de cultivo podem ser observados, embora boa parte esteja em áreas de difícil acesso.

Preservação de saberes

Os povos da serra seguem transmitindo saberes relacionados à medicina natural, técnicas agrícolas ancestrais e cosmologias que colocam a natureza como centro das relações humanas.

Desafios na preservação do patrimônio indígena

Ameaças atuais

Sítios arqueológicos enfrentam riscos constantes devido à expansão urbana, ao turismo desordenado e à especulação imobiliária, especialmente nas áreas litorâneas. Muitos sambaquis foram destruídos ao longo do século XX, usados como material para construção civil.

Importância da proteção

Preservar esses vestígios não é apenas proteger pedras, conchas e ossadas. É honrar uma história milenar que segue viva nas práticas culturais dos povos indígenas contemporâneos, que lutam diariamente pelo direito à terra, à cultura e à memória.

Uma jornada de conexão ancestral

Realizar um roteiro por cidades catarinenses com vestígios da presença indígena pré-colonial não é apenas uma viagem por pontos turísticos. É uma travessia sensível, onde cada pegada se transforma em reverência à memória, ao território e aos saberes ancestrais que moldaram a essência dessa terra muito antes da colonização.

Essa experiência, além de enriquecer o olhar do viajante, planta uma semente de respeito profundo pela diversidade cultural e pela necessidade urgente de preservar aquilo que carrega a memória dos primeiros habitantes de Santa Catarina.

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