Igrejas centenárias e capelas escondidas que valem a visita no interior catarinense

A fé como elo entre tradição, arquitetura e cultura no interior de SC

O interior de Santa Catarina guarda verdadeiros tesouros que vão muito além das paisagens naturais e das tradições culinárias. Em meio a vales, serras e pequenas comunidades, encontram-se igrejas centenárias e capelas escondidas que contam, em suas paredes e altares, a história da fé, da arquitetura e da cultura de um povo.

Essas construções, muitas vezes erguidas por imigrantes europeus no século XIX, são marcos não apenas religiosos, mas também sociais. Foram pontos de encontro, centros de organização comunitária e testemunhas silenciosas de gerações inteiras. A arquitetura revela a influência dos estilos trazidos da Alemanha, Itália, Áustria e Polônia, reinterpretados com materiais locais e soluções práticas.

Visitar esses espaços é mais do que uma jornada de contemplação estética ou espiritual: é uma viagem no tempo, uma oportunidade de entrar em contato com raízes profundas da identidade catarinense. Igrejas centenárias e capelas escondidas são guardiãs de memórias, e vale a pena incluí-las em qualquer roteiro pelo interior do estado.

O valor histórico das capelas e igrejas centenárias

Com o avanço da urbanização e o crescimento das grandes cidades, muitos templos antigos ficaram esquecidos em pequenas vilas ou zonas rurais. No entanto, em Santa Catarina, comunidades inteiras têm se mobilizado para manter vivas essas construções, conscientes de seu valor simbólico, histórico e turístico.

Técnicas construtivas do século XIX e XX preservadas

Grande parte das igrejas e capelas do interior foi construída com técnicas tradicionais, como a taipa de pilão, o enxaimel, o uso de pedra basáltica e madeira local. Essas técnicas refletiam o conhecimento dos colonizadores e as condições geográficas da região. Os telhados em duas águas, os campanários simples e os detalhes em ferro ou madeira são marcas registradas dessas edificações.

Capelas de madeira, pedra ou taipa como marcas de identidade local

Além da função religiosa, muitas capelas serviam como referência espacial nas comunidades. Estavam no topo de colinas, no centro dos vilarejos ou ao lado de cemitérios. Sua presença ajudava a organizar o território e a vida social. Eram locais de batismo, casamento, velório, partilha e festa. Sua manutenção até hoje reforça o pertencimento das famílias à sua terra.

Vínculo com festas, romarias e tradições familiares

As festas de padroeiro, as procissões de Corpus Christi, as novenas e romarias ainda movimentam muitas dessas igrejas. Em algumas comunidades, os moradores percorrem a pé longas distâncias até as capelas durante datas específicas. Essas práticas mantêm vivas não apenas a fé, mas também a solidariedade e o senso de comunidade.

7 igrejas e capelas que encantam pela história e pelo cenário

Igreja Matriz São Joaquim – São Joaquim

Construída por imigrantes no século XIX

Localizada no coração da cidade serrana de São Joaquim, a Igreja Matriz foi construída por imigrantes portugueses e italianos ainda no século XIX. Sua fachada em estilo eclético mistura elementos neogóticos e neoclássicos, com torres elevadas e vitrais coloridos.

Vista privilegiada da cidade serrana

Situada em um ponto elevado da cidade, a igreja oferece uma vista panorâmica de São Joaquim e das montanhas que a cercam. Durante o inverno, com a possibilidade de geada ou neve, o cenário se torna ainda mais encantador. A escadaria frontal, os jardins e o interior em madeira reforçam a sensação de paz e solenidade.

Capela São José – Angelina

Localizada em meio a colinas e mata nativa

Angelina, cidade de forte influência alemã, guarda uma das capelas mais bucólicas do estado. A Capela São José, construída por volta de 1880, está situada em meio a colinas verdejantes e caminhos de terra batida. Seu entorno praticamente não mudou desde a fundação.

Uma das primeiras capelas do Vale do Rio Tijucas

A capela é feita em madeira e conserva ainda o altar original, esculpido à mão. O sino, trazido da Alemanha, permanece ativo e é tocado manualmente durante celebrações. É comum ver moradores e devotos rezando ao redor da capela, especialmente no mês de março, quando ocorre a festa de São José.

Igreja de São Ludgero – São Ludgero

Arquitetura germânica imponente

A cidade de São Ludgero é um dos polos do turismo religioso no sul de Santa Catarina. A Igreja Matriz de São Ludgero foi construída no início do século XX, em estilo germânico neorromânico, com duas torres simétricas e estrutura robusta em pedra e tijolo.

Centro espiritual de imigrantes do sul do estado

Além de missas e sacramentos, a igreja é palco de grandes festividades religiosas, como a tradicional Festa do Padroeiro em agosto. No interior, vitrais coloridos retratam cenas da vida de São Ludgero, e o órgão de tubos, importado da Alemanha, ainda é utilizado em eventos especiais.

Capela Nossa Senhora da Glória – Rancho Queimado

Pequena, charmosa e em cenário rural preservado

Rancho Queimado é um dos municípios mais charmosos da Serra do Tabuleiro. Sua Capela Nossa Senhora da Glória, construída em madeira com base de pedra, está localizada na área rural do município, rodeada por campos, hortas e bosques.

Ligada ao ciclo da imigração italiana

A capela representa um marco na fixação das famílias italianas que chegaram à região no século XIX. As missas ainda ocorrem com frequência, geralmente acompanhadas por café colonial servido pela comunidade. É comum que os visitantes sejam recebidos com música, pão caseiro e hospitalidade típica serrana.

Igreja Matriz de Urussanga – Urussanga

Imponente construção em pedra basáltica

No centro de Urussanga, a Igreja Matriz se impõe com sua estrutura em pedra escura lavrada manualmente. Inaugurada em 1943, ela substituiu uma capela de madeira anterior, construída pelos primeiros imigrantes italianos da região.

Exemplo da presença italiana no sul catarinense

O interior é decorado com afrescos e imagens sacras trazidas da Itália. A praça ao redor é ponto de encontro da comunidade e palco da Festa do Vinho, uma das maiores do estado. A presença da igreja reforça a importância da religiosidade na formação da identidade cultural italiana local.

Capela de São Valentim – Nova Trento

Isolada no alto da serra, com visual cinematográfico

A Capela de São Valentim, em Nova Trento, é uma joia escondida no alto das montanhas. Seu acesso exige uma curta trilha por estrada de terra, mas o esforço é recompensado por uma das vistas mais belas da região. A simplicidade da construção contrasta com a grandiosidade do entorno natural.

Destino de fé e contemplação

A capela é ponto de peregrinação no mês de fevereiro, quando se celebra o dia de São Valentim. Casais sobem a colina para pedir proteção e bênçãos. O local transmite serenidade e é perfeito para quem busca meditação, silêncio e contato com o divino em meio à natureza.

Capela de Santa Terezinha – Rodeio

No coração da colônia trentina

Rodeio é conhecida por manter viva a cultura trentina no Brasil. A Capela de Santa Terezinha, construída por imigrantes do norte da Itália, é uma das expressões mais autênticas dessa herança. Feita com madeira e pedra, abriga missas mensais e encontros religiosos com cânticos em italiano.

Integra roteiro de turismo religioso da região

Além da importância local, a capela faz parte do roteiro religioso do Vale Europeu, que inclui visitas a igrejas, capelas, cemitérios e museus ligados à imigração europeia. É comum que grupos façam caminhadas entre as capelas como forma de peregrinação espiritual e reencontro com as origens.

Dicas para visitar esses templos com respeito e sensibilidade

Como se portar em locais sagrados ativos

Ao visitar igrejas e capelas ainda em funcionamento, é fundamental manter o respeito pelo espaço e pelas pessoas que ali praticam sua fé. Evite conversas em voz alta, vista-se de forma adequada e não fotografe durante missas ou momentos íntimos de oração sem permissão.

Melhor época para ir: festas religiosas e celebrações típicas

Muitas dessas igrejas e capelas ganham vida durante festas de padroeiros, procissões ou celebrações sazonais. Verifique o calendário de eventos de cada cidade e, se possível, alinhe sua visita com essas datas. Além de participar de algo autêntico, você poderá vivenciar a alegria e o sentimento comunitário que marcam essas celebrações.

Roupas, silêncio e contato com moradores locais

Use calçados confortáveis, roupas discretas e leve água, principalmente em capelas rurais com acesso por trilha. Converse com os moradores: eles costumam ter boas histórias sobre o lugar, a construção da igreja e os rituais que ali ocorrem. Muitas vezes, esse contato é o que transforma a visita em uma experiência memorável.

Conectar-se com a fé, a história e a paisagem

As igrejas centenárias e capelas escondidas do interior catarinense oferecem mais do que beleza arquitetônica ou vistas encantadoras. Elas convidam o visitante a refletir sobre o tempo, a fé e as raízes culturais que deram origem às comunidades que formam o estado.

Em um tempo em que tudo é acelerado e digitalizado, entrar em uma capela de madeira no alto de uma colina, ouvir o silêncio entre as árvores ou sentir o cheiro da cera de vela queimada é uma forma de reconexão com o essencial.

Visitar esses templos é um gesto de respeito e gratidão. É reconhecer que, antes de nós, houve mãos que construíram, vozes que cantaram, lágrimas que foram enxugadas e preces que atravessaram séculos. Santa Catarina guarda esses lugares como jóias — e cabe a nós manter viva sua luz.

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