A escalada em rocha cresce em Santa Catarina
A escalada em rocha é uma das atividades que mais tem crescido entre os adeptos do ecoturismo e dos esportes de aventura no Brasil. Em Santa Catarina, embora o litoral seja amplamente conhecido por suas belezas naturais, é no interior do estado que alguns dos destinos mais surpreendentes para os praticantes da escalada estão se revelando. Cidades serranas, paredões isolados, cânions e formações rochosas únicas transformam a região em um verdadeiro parque vertical para todos os níveis de escaladores.
O relevo acidentado, a presença de diferentes tipos de rochas e a proximidade entre os destinos tornam o estado um ponto estratégico para a prática. A infraestrutura de hospedagem em pequenas cidades, a acolhida das comunidades locais e o envolvimento crescente de grupos de escaladores têm promovido novas vias e áreas, ao mesmo tempo em que o contato com a natureza se intensifica.
Esses destinos do interior não apenas oferecem vias técnicas e desafiadoras, mas também proporcionam uma imersão cultural e paisagística que complementa a experiência da escalada. Ali, entre montanhas, florestas e neblinas, cada agarra é também um contato com o essencial.
O que buscar em um bom destino de escalada em rocha
A escolha de um destino de escalada não deve se basear apenas na altura da parede ou na beleza da paisagem. Fatores técnicos, segurança, diversidade de estilos e condições ambientais são fundamentais para garantir que a experiência seja completa e gratificante.
Tipos de rocha e variedade de vias
Santa Catarina apresenta uma geodiversidade que oferece oportunidades tanto para quem está começando quanto para quem busca grandes desafios. Quartzito, arenito e granito são os principais tipos de rocha presentes nos destinos do interior do estado. Cada um deles proporciona estilos distintos de escalada — do boulder potente e explosivo às vias tradicionais de múltiplos lances com proteção móvel.
A presença de diferentes graduações em um mesmo setor é um indicativo importante para quem viaja em grupo com escaladores de níveis variados. Ter vias bem identificadas, com ancoragens seguras e manutenção frequente também é essencial para a segurança da prática.
Segurança, acesso, comunidade local e estrutura de apoio
A qualidade das proteções fixas, a acessibilidade até o setor e a existência de parcerias com moradores e comerciantes locais podem definir o sucesso da viagem. Comunidades que apoiam a escalada tendem a oferecer informações atualizadas, mapas de vias, apoio emergencial e até alimentação e hospedagem próximas às áreas de prática.
Alguns setores exigem acesso por trilhas técnicas ou travessias, e por isso é importante conhecer os detalhes logísticos do deslocamento. A escolha de destinos com baixo impacto ambiental e presença consciente dos escaladores é um fator-chave para a manutenção dessas áreas ao longo do tempo.
Opções para boulder, esportiva e tradicional
Escaladores esportivos normalmente procuram vias com proteções fixas (chapeletas e grampos), enquanto os praticantes da escalada tradicional levam seus próprios equipamentos de segurança para montar proteções móveis ao longo da via. Já o boulder, uma modalidade praticada em blocos baixos com colchões (crash pads), exige pouco equipamento e é excelente para sessões curtas e potentes.
Saber qual estilo predomina em cada local ajuda a planejar o tipo de material a ser levado e o perfil da viagem. Em muitos casos, um mesmo destino oferece setores mistos, ampliando as possibilidades de prática.
6 destinos surpreendentes para escalar no interior de Santa Catarina
Serra do Rio do Rastro – Bom Jardim da Serra
Paredões imponentes com vias técnicas e visuais épicos
A Serra do Rio do Rastro é um dos cenários mais icônicos de Santa Catarina. Suas escarpas verticais, curvas sinuosas e altitude superior a 1.400 metros fazem do local um ponto de referência não só para ciclistas e turistas, mas também para escaladores.
As vias na região são desafiadoras, com proteções fixas em quartzito de alta aderência. O visual dos paredões misturados à vegetação de altitude é um atrativo à parte. É possível encontrar vias esportivas e tradicionais, com lances longos e exigentes. O clima instável da serra exige atenção: mudanças repentinas de temperatura e neblina intensa são comuns, tornando essencial o planejamento do horário de escalada.
Morro da Igreja – Urubici
Altitude elevada e vias para todos os níveis
O Morro da Igreja é o ponto mais alto habitado do estado e abriga algumas vias pouco exploradas, mas com excelente potencial técnico. A rocha predominante é o basalto, oferecendo boa aderência e desafios técnicos variados.
A altitude superior a 1.800 metros proporciona escaladas frescas mesmo no verão, o que torna a experiência mais confortável. As vias são curtas, mas exigem leitura cuidadosa e movimentação precisa. Algumas travessias horizontais ao longo das falésias testam o equilíbrio e a força do escalador. Urubici conta com boa infraestrutura turística, o que facilita a estadia de quem viaja para escalar.
Pedra do Leão – Alfredo Wagner
Escalada tradicional em um cenário de tirar o fôlego
Pouco conhecida fora da comunidade escaladora, a Pedra do Leão é uma formação rochosa monumental que se ergue sobre o vale em Alfredo Wagner. Com vias longas, a maioria em estilo tradicional, o local exige técnica, resistência e domínio do uso de equipamentos móveis.
A aproximação é feita por trilha íngreme em meio à mata atlântica, e o isolamento da área garante silêncio e conexão com a natureza. As rotas oferecem de cinco a oito enfiadas (lances), sendo necessário um bom planejamento de cordadas e logística de descida. É um destino para escaladores experientes e com espírito de exploração.
Gruta Nossa Senhora de Lourdes – Anitápolis
Parede escondida em meio à mata atlântica
Anitápolis guarda um segredo vertical entre suas montanhas: a parede que se ergue por trás da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. O setor é pequeno, mas oferece vias bem protegidas, de médio a alto grau de dificuldade.
Com sombra durante boa parte do dia e acesso facilitado, o local é ideal para sessões rápidas ou treinos técnicos. A vegetação ao redor e o silêncio do entorno proporcionam uma experiência de imersão profunda, ideal para quem prefere locais menos movimentados e quer focar totalmente na escalada.
Morro do Baú – Ilhota
Rochas graníticas e vias esportivas de diferentes graduações
O Morro do Baú é um dos setores mais completos do estado para a prática da escalada esportiva. Situado entre Ilhota e Luiz Alves, ele combina acessibilidade, variedade e visual. As vias vão de 5º a 9º grau, em rocha granítica sólida e com boa aderência.
A aproximação é feita por trilha moderada, e o topo oferece uma vista panorâmica do Vale do Itajaí. A comunidade escaladora local mantém o setor com boas ancoragens, croquis atualizados e sinalização. É um excelente destino para quem deseja escalar com segurança, conforto e variedade de estilos em um mesmo local.
Caminho dos Cânions – Praia Grande (lado interior)
Escalada em arenito na borda dos cânions
Na divisa com o Rio Grande do Sul, Praia Grande abriga a entrada catarinense dos cânions Fortaleza e Itaimbezinho. Do lado interior, o acesso por trilhas revela paredões de arenito com grande potencial de escalada, especialmente para quem pratica vias longas e técnicas em meio à natureza selvagem.
As vias ainda estão em desenvolvimento, com participação de escaladores locais e visitantes. É uma região ideal para acampamento selvagem, conexão profunda com o ambiente e escaladas com vistas de tirar o fôlego. A logística de acesso é mais complexa, exigindo veículos 4×4 ou longas caminhadas. O esforço, porém, vale cada agarra.
Dicas para planejar sua escalada fora do litoral
Equipamentos específicos para cada tipo de via
Cada destino e estilo de escalada exige um conjunto de equipamentos adequado. Para vias esportivas: corda dinâmica de 60 ou 70 metros, expressos, capacete, sapatilhas e freio. Para vias tradicionais: jogo de cams, nuts, fitas, costuras e um plano claro de montagem de reunião. Para boulder: crash pads, escova, magnésio e parceiro de queda. Nunca subestime a importância do capacete — queda de pedras é comum em alguns setores.
Importância da previsão do tempo em regiões de serra
Regiões serranas de Santa Catarina sofrem com instabilidades climáticas. Leve sempre agasalho, capa de chuva e alimentação de emergência. Programe os horários de escalada para evitar trechos escorregadios ou visibilidade reduzida. A leitura do céu e o uso de aplicativos especializados ajudam a evitar situações de risco.
Contato com a comunidade local e conduta ambiental responsável
Informe-se sobre as regras de acesso, permissões necessárias e áreas de escalada liberadas. Algumas formações estão em áreas privadas ou próximas a unidades de conservação. Respeite a fauna, evite deixar lixo, minimize o impacto sonoro e evite danificar a vegetação. Ser um bom visitante é garantir que os setores continuem abertos para futuras gerações.
Conectar-se à natureza vertical do estado
Escalar é muito mais do que superar obstáculos físicos. É entender o corpo, escutar o vento, ler a rocha e dialogar com a gravidade. Quando essa prática acontece em locais remotos, selvagens e silenciosos, o ato de escalar transforma-se em meditação ativa, em contato íntimo com a terra.
Santa Catarina, além de suas praias, reserva paredes imponentes, trilhas ocultas e comunidades que acolhem o escalador com simplicidade e respeito. Descobrir esses destinos é expandir os horizontes do esporte e permitir que a natureza revele sua verticalidade em toda a sua potência.
A rocha espera. E o interior catarinense tem muito mais a oferecer do que se vê à beira-mar. É preciso subir para enxergar mais longe — e, talvez, mais fundo.