Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e os vestígios arqueológicos pré-coloniais

Santa Catarina guarda preciosidades naturais que vão além das paisagens exuberantes. Em meio à biodiversidade, também resistem vestígios de povos que habitavam esse território milhares de anos antes da colonização europeia.

Explorar o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e os vestígios arqueológicos pré-coloniais é compreender uma parte fundamental da história que geralmente é apagada das narrativas oficiais. É a chance de se conectar com as primeiras ocupações humanas da região sul do Brasil.

Esse parque não é apenas uma das maiores unidades de conservação do estado. É também guardião de registros arqueológicos que revelam a presença dos povos originários, seus modos de vida, suas tecnologias e suas relações com o ambiente.

A importância do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Maior unidade de conservação de Santa Catarina

O parque ocupa cerca de 84 mil hectares, abrangendo os municípios de Florianópolis, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, Águas Mornas, Paulo Lopes, Imaruí e Garopaba.

Relevância ambiental e histórica

  • Protege nascentes que abastecem parte da Grande Florianópolis.
  • Abriga ecossistemas da Mata Atlântica, campos de altitude, restingas e manguezais.
  • Guarda vestígios arqueológicos que datam de milhares de anos antes da chegada dos colonizadores europeus.

Berço de povos originários

Os vestígios encontrados indicam a ocupação de povos ancestrais, pescadores, coletores e agricultores, cujas tecnologias, rituais e modos de vida foram moldados pela relação profunda com esse território.

Os vestígios arqueológicos pré-coloniais do parque

Sambaquis: os monumentos dos povos originários

  • O que são: Montes construídos por acúmulo de conchas, ossos de peixes, restos de alimentos, carvão, artefatos líticos e cerâmicas.
  • Função: Mais do que depósitos de lixo, os sambaquis eram espaços cerimoniais, cemitérios e, possivelmente, marcos territoriais.
  • Datação: Alguns sambaquis encontrados no entorno do parque remontam a mais de 5.000 anos.

Sítios líticos e cerâmicos

  • Ferramentas de pedra lascada, machados polidos e pontas de lança fazem parte dos vestígios.
  • Fragmentos de cerâmica indicam atividades agrícolas, culinárias e culturais de povos que já dominavam técnicas sofisticadas muito antes da chegada dos europeus.

Inscrições rupestres

  • Gravuras e registros visuais em pedras foram localizados em alguns afloramentos rochosos no entorno da Serra.
  • Desenhos de espirais, figuras antropomórficas e representações da fauna reforçam a importância espiritual desses locais para os povos originários.

Onde observar vestígios no Parque da Serra do Tabuleiro

Núcleo de Educação Ambiental – Palhoça

  • Oferece exposições sobre arqueologia e a história dos povos originários da região.
  • Exibe réplicas de ferramentas, peças cerâmicas e informações sobre os sambaquis.

Trilha do Vale do Rio da Madre

  • Durante o percurso, é possível observar áreas com sinais de antigos sítios de ocupação humana.
  • Guias especializados explicam a relação dos povos originários com a fauna, a flora e as nascentes do vale.

Área costeira do parque (Praias de Naufragados e Sonho)

  • Próxima ao limite leste do parque, abriga sambaquis preservados.
  • Algumas trilhas costeiras permitem observar as estruturas, hoje protegidas e interpretadas por projetos de educação patrimonial.

Povos originários associados aos vestígios

Povos sambaquieiros

  • Primeiros habitantes conhecidos da região costeira de Santa Catarina.
  • Pescadores, coletores e construtores dos grandes sambaquis.
  • Extintos antes da chegada dos europeus, mas suas práticas de manejo costeiro influenciaram os povos que vieram depois.

Povos Guarani

  • Ainda presentes no território, os Guarani são herdeiros diretos das tradições ancestrais da Mata Atlântica.
  • Mantêm aldeias no entorno do parque, como a Aldeia Tekoa Itaty, no Morro dos Cavalos.
  • Preservam saberes sobre o uso medicinal das plantas, os ciclos da natureza e a cosmologia ligada à floresta.

Povos Xokleng e Kaingang

  • Embora associados principalmente ao planalto, suas rotas de circulação incluíam as áreas mais altas da Serra do Tabuleiro.
  • Vestígios de ferramentas e registros de ocupação em áreas de campos de altitude estão diretamente relacionados a esses povos.

Como viviam os povos pré-coloniais na Serra do Tabuleiro

Uma relação de equilíbrio com o ambiente

  • Coletavam frutos, raízes e plantas medicinais.
  • Praticavam pesca artesanal em rios e na costa.
  • Produziam cerâmica, instrumentos de pedra e construíam habitações simples, muitas vezes em áreas elevadas, longe de enchentes.

Cultura e espiritualidade

  • As gravuras rupestres e os sambaquis sugerem práticas espirituais ligadas ao ciclo da vida, da morte e da renovação.
  • A visão de mundo desses povos é profundamente conectada aos elementos naturais: rios, montanhas, animais e plantas são, todos, parte de um sistema sagrado.

Roteiros para quem deseja conhecer essa história no parque

Trilha das Nascentes do Rio Vargem do Braço

  • Duração: 4 a 6 horas
  • Dificuldade: Moderada
  • Destaques: Paisagens de Mata Atlântica densa e possibilidade de avistar pontos onde foram localizados sítios arqueológicos próximos às margens dos rios.

Trilha da Pedra Branca

  • Duração: 3 horas
  • Nível: Moderado
  • Atrativos: Vista panorâmica da Grande Florianópolis e explicações sobre os antigos ocupantes da região e suas práticas de navegação e ocupação dos costões e vales.

Visita ao Núcleo de Educação Ambiental

  • Atividades: Oficinas, exposições, palestras sobre arqueologia, povos originários e preservação ambiental.
  • Diferencial: Atividades práticas para crianças e adultos, com foco em educação patrimonial e ambiental.

Conexão com aldeias Guarani

  • Algumas agências e projetos socioculturais autorizados oferecem visitas mediadas à Aldeia Tekoa Itaty, onde é possível conhecer práticas culturais atuais que se conectam diretamente com saberes milenares.
  • As visitas respeitam os protocolos definidos pela própria comunidade, garantindo que sejam feitas de forma ética e educativa.

Desafios na preservação dos vestígios

Ameaças históricas

  • Destruição de sambaquis para uso como material de cal na construção civil durante os séculos XIX e XX.
  • Avanço urbano e especulação imobiliária nas áreas de entorno.

Ações atuais de proteção

  • Tombamento de sítios arqueológicos pelo IPHAN.
  • Monitoramento constante por equipes do parque, arqueólogos e organizações não governamentais.
  • Programas de educação patrimonial integrados às atividades do parque.

Papel da sociedade

  • A valorização dos vestígios não depende apenas do Estado, mas também de visitantes conscientes, educadores, estudantes e da população que vive no entorno.

Por que conhecer os vestígios arqueológicos da Serra do Tabuleiro transforma nossa percepção

Ao visitar o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e os vestígios arqueológicos pré-coloniais, não estamos apenas fazendo uma trilha ou contemplando belas paisagens. Estamos, na verdade, caminhando sobre as pegadas dos povos que moldaram esse território milhares de anos antes de qualquer colonizador europeu aportar por aqui.

Cada pedra gravada, cada fragmento de cerâmica, cada elevação de sambaqui conta uma história de resistência, de adaptação, de conhecimento profundo sobre o meio ambiente e de conexão espiritual com a terra. E entender essas histórias não é apenas olhar para o passado — é, acima de tudo, uma maneira de refletir sobre como cuidamos do presente e do futuro desse território que, desde muito antes, já era casa, santuário e fonte de vida.

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